O atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou nesta quarta-feira (2) a prometida taxação para os parceiros comerciais do país, incluindo as importações do Brasil em 10%.
O aumento é parte da nova política comercial dos EUA, realizando a “reciprocidade” entre as outras nações, o que significa que Donald Trump levará em conta a forma como os produtos norte-americanos serão taxados em outros países aplicando as tarifas sobre mercadorias que adquire deles.
Segundo o presidente, o valor das taxas serão ao menos metade da alíquota cobrada pelos outros países, sendo a taxa mínima de 10%. “As tarifas não serão totalmente recíprocas. Eu poderia ter feito isso, sim, mas teria sido difícil para muitos países. Não queríamos fazer isso.”, afirma.
O maior país da América do Sul figura entre os menos afetados pelas decisões, ficando com 25% sob o aço, alumínio e automóveis, e na mínima de 10% sob as novas taxas. Porém, os preços de Trump para os outros países acabaram sendo maiores que o esperado.
As taxações passam a valer a partir do sabádo (5), enquanto as taxas mais altas, serão aplicadas aos países com os maiores déficits comerciais com os EUA a partir da próxima quarta-feira (9), uma semana após o anúncio.
Brasil comenta sobre taxação
O presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, disse que tomará “todas as medidas cabíveis” contra o tarifaço aos produtos do país, entretanto o governo continua “aberto ao aprofundamento do diálogo estabelecido ao longo das últimas semanas com o governo norte-americano para reverter as medidas anunciadas e contrarrestar seus efeitos nocivos o quanto antes” e lamenta a decisão do governo norte-americano.
“Responderemos a qualquer tentativa de impor um protecionismo que não cabe mais hoje no mundo. Diante da decisão dos Estados Unidos de impor uma sobretaxa aos produtos brasileiros, tomaremos todas as medidas cabíveis para defender as nossas empresas e trabalhadores brasileiros, tendo como referencia a lei da reciprocidade econômica apresentada ontem e as diretrizes da Organização Mundial do Comércio”, diz Lula, afirmando que buscará à Lei de Reciprocidade aprovada pelo Congresso, sendo sancionada em breve, além das diretrizes que garantem essa possibilidade na Organização Mundial do Comércio (OMC), em defesa dos legítimos interesses nacionais.
O projeto da Câmara dos Deputados, aprovado na noite de quarta-feira (2), — após decisões de Trump — firma critérios para a reação do país a barreiras e imposições comerciais de nações ou blocos econômicos sobre produtos nacionais, fornecendo ao Executivo, instrumentos legais para efeito de reação em decisões unilaterais de outros países que atinjam o Brasil de forma negativa.
Na nota conjunta, assinada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e Ministério das Relações Exteriores (MRE), diz que a nova medida assim como as demais já aplicadas “viola os compromissos dos EUA perante a Organização Mundial do Comércio e impactará todas as exportações brasileiras de bens para os EUA”.
Impacto global
Entre as nações afetadas pelas novas tarifas dos Estados Unidos, encontra-se Laos atingindo 48%, seguida de Madagascar com 47%, Vietnã com um porcento a menos (46%), China com 34%, Taiwan e Indonésia com 32%, Suíça e Africa do Sul chegando a 31%.
Finalizando abaixo de 30%, fica a Índia com 26%, seguida da Coreia do Sul com 25%, Japão e Málasia com 24%, União Europeia com 20% e assim como o Brasil, Cingapura e Reino Unido ficam na mínima, com 10%.
De acordo com o Peterson Institute of International Economics, apenas as tarifas sobre o México, Canadá e China, chegarão ao valor de US$ 1.200 por ano às famílias americanas, equivalente a 3% de alta na inflação dos Estados Unidos.
Com isso, o Sistema de Reserva Federal (Fed, sigla em inglês) dos EUA ficará pressionado a elevar os juros, com uma provável mudança cambial e um repasse de preços. Ademais, Trump vê os preços como uma proteção em relação a concorrência global, considerada desleal pelo mesmo.
Análises dos especialistas
Para os especialistas, em curto prazo não haverá efeito inflacionário considerável, mas tem grandes chances de futuras mudanças no cenário devido as movimentações do dólar ante outras moedas.
“Primeiro deve ser sentido um efeito inflacionário nos Estados Unidos, o que vai acabar pressionando o FED por elevação dos juros. Quando isso acontece o mundo inteiro é impactado, o dólar passa a ganhar força e as outras divisas perdem valor”, explica Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior.
Neste cenário eles apontam para uma desaceleração da economia norte-americana, que em conjunto com uma inflação crescente criará um panorama mais desafiador para o banco central dos Estados Unidos.
“Temos que trabalhar com a perspectiva de um mundo que vai desacelerar e de forma muito importante. Isso pode pesar na outra ponta para o FED sobre a contenção do remédio amargo que são os juros para combater a inflação”, aponta o economista-chefe da Way Investimentos, Alexandre Espírito Santo.
Já a equipe de estratégia da XP Investimentos chama a atenção para as tarifas destinadas ao Brasil, sendo mais leves comparadas as de outros países. “No entanto, permanecem riscos relevantes, como a tarifa base de 10% sobre todas as importações, que pode afetar importantes produtos exportados para os EUA”.
Setores exportadores de commodites, como o agro, podem acabar se beneficiando de uma futura guerra comercial, já que os países tendem a retaliar as medidas do país norte-americano, de acordo com a XP.
Na última guerra comercial entre Estados Unidos e China, realizada de 2018 a 2020, o país asiático acabou migrando a demanda por commodites para o Brasil, fortalecendo produtos como soja e milho.
Estima-se que também pode ocorrer investimentos da China no setor de infraestrutura brasileiro e na América Latina, com o país ampliando o investimento estrangeiro direto na região desde 2000, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 16,3% em 20 anos, período de 2007 a 2023, um total de US$ 73,3 bilhões em investimentos de infraestrutura no Brasil.